quinta-feira, 2 de julho de 2015

Internet.org: neutralidade de rede é questão técnica ou concorrencial?



Acordo,não há. Mas uma tarde de debates na Câmara dos Deputados, realizada nesta terça-feira, 30/06,  levantou benefícios e prejuízos de um eventual acerto entre governo e Facebook para lançamento no Brasil do Internet.org – o aplicativo de acesso gratuito a conteúdos selecionados da rede.

O debate, no fundo, nem envolve o mencionado (e negado) acordo – ainda que deputados de oposição tenham se aproveitado para criticar a presidenta Dilma Rousseff por anunciar o que não existe (ou, ainda, um potencial acerto sigiloso com a rede social). O cerne é se o Internet.org, como principal exemplo de acesso pelo modelo de ‘zero rating’ ou tarifação zero, fere ou não a neutralidade de rede.

“O artigo 9o do Marco Civil diz que não pode haver discriminação nem degradação do tráfego por conteúdo, origem e destino, serviço, terminal ou aplicação. É difícil acreditar que uma plataforma de alguns aplicativos, que não serão escolhidos pelo consumidor, não esteja fazendo discriminação”, sustentou a representante do Terceiro Setor no Comitê Gestor da Internet, Flávia Lefèvre.

Além dela, outras entidades ecoaram preocupações com o aplicativo, uma vez que ele é baseado no acesso a conteúdos selecionados da rede. “São acordos comerciais com empresas de conteúdo que segregam o tráfego de dados, dando preferência a certos aplicativos. Isso não é internet”, disse a secretária-geral do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Renata Mielli.

Neutralidade

Embora Dilma Rousseff tenha literalmente vestido o casaco do Facebook em encontro com Mark Zuckerberg, em abril – durante a Cúpula das Américas – o governo garante que não há um acordo. “Foram apresentados projetos e foi expressado interesse de conhecer esses projetos. Na volta, foi criado grupo para levantar informações e formar juízo acerca desse projeto”, explicou a diretora de serviços e universalização do Ministério das Comunicações, Miriam Wimmer.

A diretora do Minicom talvez tenha resumido da melhor o debate, que tem no aplicativo do Facebook seu expoente, mas na prática envolve a regulamentação do Marco Civil e seu impacto sobre o ‘zero rating’. “A questão é se o princípio da neutralidade de rede se refere à não discriminação técnica ao pacote de dados, ou se também abrange diferenciação comercial da oferta de dados”, disse.

Como já mencionado, entidades envolvidas na campanha Banda Larga é Um Direito Seu sustentam que ao selecionar aqueles conteúdos que serão grátis – quer dizer, cuja navegação não consome a franquia de dados – o Internet.org e demais planos de tarifa zero faz discriminação de conteúdos. “Se tem acesso a apenas uma aplicação, tem gerenciamento de tráfego”, insistiu Veridiana Alimonti, do Coletivo Intervozes.

Mas não está claro que o aplicativo diferencia os pacotes de dados. Como vem defendendo o diretor-presidente do NIC.br e ‘pai’ da internet no Brasil, Demi Getschko, “pode ser que alguns serviços, devido a acordos comerciais, não gastem minha franquia, e isso pode ter efeitos em áreas como a de competição ou a econômica mas, em meu entendimento, se o meu livre arbítrio em usar o que contratei estiver preservado, e se os ‘pacotes de dados’ não forem priorizados, não perco neutralidade com isso”.

O Facebook sustenta que não faz isso. “O aplicativo do Internet.org não requer nenhuma espécie de bloqueio nem a criação de vias expressas de priorização de conteúdos”, defendeu o gerente de Relações Governamentais da rede social, Bruno Magrani. “O projeto é voluntário, ninguém é obrigado a usar, então gera mais escolha para consumidor. Ele também não proíbe nenhuma outra oferta ou contratação”, emendou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário