Empresas
que conseguem prosperar em um cenário econômico tão adverso têm
em comum a aposta em pesquisa, equipamentos e novos mercados.
Pouco
depois do estouro da crise internacional de 2008, em uma época
repleta de incertezas na economia brasileira e mundial, o empresário
Rodrigo Tavares tomou uma decisão ousada: resolveu que era hora de
tirar sua metalúrgica do estágio quase artesanal. Para isso,
importou uma máquina italiana que lhe permitiria produzir mais
rápido e angariar mais encomendas.
Oásis
Paranaense
A
produção industrial brasileira cresceu apenas 5,6% entre 2008 e
2013, pouco mais de um quarto do crescimento do PIB no mesmo período,
de 19,9%. Nesse contexto, o desempenho da indústria paranaense foi
excepcional. Puxada pelo setor automotivo – alvo preferencial dos
estímulos do governo – e pela agroindústria, a produção
estadual cresceu 28,6% de 2008 a 2013. Dentre os 14 estados
pesquisados pelo IBGE, só Goiás cresceu mais nesses anos (33%).
Quem
financiou a compra foi o próprio fabricante do equipamento. A taxa
de juros e a cotação do euro não eram as mais favoráveis, mas o
preço, sim: com a forte queda da demanda global, a indústria estava
dando descontos generosos para desovar a produção. Tavares suou
para pagar as prestações, mas a aposta funcionou, e há alguns anos
sua empresa, a fabricante de cozinhas industriais Rodriaço, passou a
figurar nas listas das que mais crescem no país.
Enquanto
Tavares confiou no investimento para não sucumbir à crise, o
governo federal passou os últimos anos apostando no consumo como
forma de dar impulso à indústria e à economia. E deixou de lado
políticas e reformas que, embora não fossem capazes de produzir
resultados imediatos, abririam espaço para um crescimento mais
sustentado. A opção pelo estímulo ao consumo funcionou por algum
tempo, mas hoje, nitidamente esgotada, mostra suas consequências
negativas.
Sem
acomodação
No
primeiro semestre deste ano, a produção da indústria brasileira,
que andava de lado desde 2011, caiu 2,3%. No Paraná, onde o setor
vinha bem mais embalado, a queda chegou a 4,3%. De 12 segmentos
monitorados continuamente pelo IBGE no estado, oito produziram menos
no primeiro semestre – a retração mais disseminada desde 2009.
Não
são muitas, portanto, as empresas que continuam crescendo em meio a
um cenário tão adverso. Quase todas as que conseguem têm em comum
o fato de não terem se acomodado durante os anos de bonança.
Investiram em pesquisa e equipamentos, desenvolveram novos produtos e
buscaram novos mercados mesmo quando não era preciso fazer esforço
para continuar faturando alto.
É
o caso da MVC, especializada em compostos plásticos, que anos atrás
decidiu diversificar sua linha de produtos e buscar clientes em
setores como o de energia eólica, quando o mais cômodo era
continuar fornecendo produtos apenas para a consolidada indústria
automotiva, que por muitos anos cresceu de forma exuberante.
A
Caltec, fabricante de cal, continua ganhando dinheiro com a
construção civil, outro setor que vem perdendo fôlego. Mas a
empresa só se mantém em alta porque, há dois anos, começou a
produzir um tipo de areia que vem ganhando espaço entre as
construtoras. Se não fosse por esse produto, as receitas já
estariam encolhendo.
“As
sondagens dos últimos dois anos mostram que o desenvolvimento de
novos produtos e a abertura de novos mercados têm sido um foco das
empresas. Quem achou um novo caminho está colhendo os resultados”,
comenta o economista Roberto Zurcher, do departamento econômico da
Federação das Indústrias do Paraná (Fiep).
Rodriaço,
MVC, Caltec e as outras cinco empresas retratadas nesta reportagem
fizeram uma aposta que se mostrou certeira. Poderia ter falhado; é
um risco de qualquer aposta. Mas os exemplos bem-sucedidos sugerem
que, em um país que não parece ter qualquer plano para a indústria
– nem mesmo o plano de deixar o setor se virar sozinho, sem a
miríade de “pacotinhos” e incentivos direcionados dos últimos
anos –, depender das escolhas do governo pode ser um risco ainda
maior.
Endividamento
esgotou modelo de incentivo ao consumo
As
medidas de estímulo ao crédito e à compra de bens, em um cenário
de aumento real dos salários e rápida expansão da renda, foram
decisivas para sustentar o crescimento econômico – e a indústria
– nos primeiros anos do pós-crise. O governo repetiria a fórmula
muitas vezes, mas, com os consumidores endividados e o emprego e a
renda perdendo fôlego, o efeito sobre a atividade econômica ficou
mais fraco a cada dose.
Enquanto
o incentivo ao consumo funcionava, o país pouco fez para atacar
antigas deficiências que desde sempre impediram um crescimento
econômico mais consistente e duradouro, entre elas o complexo e
custoso sistema de tributos e encargos sociais; as deficiências na
educação, em especial a de nível básico; a tímida abertura
comercial; e a falta de poupança pública e privada, que limita os
investimentos em obras e equipamentos e, consequentemente, faz
perdurarem problemas crônicos de infraestrutura.
O
resultado não demorou a aparecer. Depois de avançar 7,5% em 2010, o
PIB brasileiro subiu apenas 6,4% na soma dos três anos seguintes. O
setor mais afetado – e o primeiro a perder ritmo no pós-crise –
foi a indústria, que, de 2011 a 2013, “cresceu” menos de 0,1% na
média nacional.
Consequências
A
indústria perdeu espaço no mercado interno e, claro, lá fora. E
não só porque o câmbio eventualmente não ajudou e porque os
gargalos logísticos persistiram. Em muitos casos, as fábricas
concederam reajustes salariais mais altos que o aumento da
produtividade e em outros tantos a falta de profissionais
qualificados impediu ganhos de eficiência.
Na
tentativa de reanimar a indústria, o governo editou medidas de curto
prazo, a maioria para segmentos escolhidos, e desonerou a folha de
pagamentos de boa parte do setor, com poucos resultados. No fim de
2012, o governo criou um pacote para baixar a tarifa de energia. Além
de o efeito já ter passado, as medidas bagunçaram o setor elétrico
e despertaram uma insegurança que piorou ainda mais os índices de
confiança dos empresários.
No
embalo da internet – A Fibracem, de Pinhais (Região Metropolitana
de Curitiba), cresceu em média 20% ao ano nos últimos três anos.
E, segundo a diretora de marketing e qualidade, Carina Bitencourt, a
empresa caminha para fechar o ano com avanço de 30%. Fabricante de
cabos de fibra ótica e acessórios, a Fibracem tem como público-alvo
os pequenos provedores de internet, que atuam em cidades menores,
onde operadoras como Net e GVT não chegam. “A renda aumentou, os
consumidores buscaram conexões mais rápidas, o provedor cresceu e
nós crescemos junto”, explica Carina. Nos últimos anos, a empresa
buscou distribuidores em seis estados do Sul e do Sudeste, e investiu
em máquinas que aumentaram a velocidade e reduziram os custos da
produção.
Carina
Bitencourt, diretora de marketing e qualidade da Fibracem, ao lado de
novas máquinas compradas pela empresa.
Fonte: Gazeta
do Povo
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